Um grupo de brasileiros registrou Boletim de Ocorrência em Manaus após um suposto golpe de agências de viagem. Neste domingo (6), o grupo de pelo menos 25 pessoas que passariam o Réveillon em Isla de Margarita, na Venezuela, alegou que foram abandonados pelas agências de viagem e chegaram a passar fome e correr o risco de serem abandonados no país sem ter como voltar para o Brasil.
Os 10 dias de viagem foram, para os integrantes do grupo, uma das piores experiências já vividas. Com empréstimos e ligações para o Brasil, conseguiram voltar para Manaus neste domingo (6), onde seguiram até a sede do 3º Distrito Integrado de Polícia (DIP) e registraram Boletim de Ocorrência contra a suposta guia turística e um grupo de pelo menos cinco agências de viagem responsáveis pela venda dos pacotes de Réveillon para Isla Margarita.
O empresário paulista Emerson Guerra, de 41 anos, planejou o pacote de viagem com mais cinco pessoas da família, a esposa, o sogro e as duas filhas. Segundo ele, o que era para ser um ano novo em família, virou um pesadelo.
“As condições foram desumanas. Espero que ninguém nunca passe pelo que nós passamos, Chegamos a pensar que não voltaríamos ao Brasil”
“Achamos que passaríamos um ano novo agradável, mas não foi bem assim. Foram dias inesquecíveis, extremamente frustrantes e degradantes, eu diria. As condições foram desumanas. Espero que ninguém nunca passe pelo que nós passamos, Chegamos a pensar que não voltaríamos ao Brasil”, afirmou o empresário paulista.
Caso foi registrado no 3º Distrito Integrado de Polícia (DIP) — Foto: Indiara Bessa/G1 AM
O grupo seguiu viagem no dia 27 de dezembro deste ano. Os dois ônibus saíram da Arena da Amazônia com pelo menos 80 turistas e os problemas iniciaram logo na fronteira dos países. Uma mulher, contratada pelas empresas, era a responsável pela orientação dos turistas.
A viagem estava estipulada em dois dias. Na fronteira, um problema com a documentação de um dos veículos fez com que o grupo ficasse cerca de 10 horas esperando a liberação, que só ocorreu após o pagamento de propina. Ao chegar em Santa Helena do Uairén, o grupo foi encaminhado a uma casa onde fariam o câmbio do dinheiro. O prometido, inicialmente, era que para cada R$ 1 eles receberiam 240 bolívares.
“Quando fomos colocados dentro dessa residência fechada, com câmeras e pessoas armadas, nos foi ofertado apenas 90 bolívares por R$ 1, ou seja, nos coagiram para que fizéssemos o pior câmbio possível para lograr proveito financeiro ali”, afirmou o empresário.
Um dos grupos seguiu viagem apenas no dia seguinte e precisou pagar um hotel na cidade para passar a noite. No retorno à viagem, os turistas passavam cerca de 10 a 15 horas dentro dos veículos, sem paradas para refeições.
Refeições e hospedagem oferecidos eram de baixa qualidade e não estavam pagos, como o combinado em contrato — Foto: Arquivo Pessoal
“A gente chegou perto do transbordo até Isla Margarita, em Puerto de La Cruz, onde nos deixaram para fazer um lanche e nos abandonaram. O ônibus se moveu sem avisar a equipe, nos deixando perdidos, fomos avisados por um garçom de um restaurante que a população local estava nos olhando e provavelmente nos assaltaria, então a gente se desesperou”, afirmou Guerra.
O grupo, então, ao retornar para o ônibus, seguiu viagem para o destino de Isla Margarita. Ao invés de pegar um barco de ferro que estava no contrato de viagem, seguiu até um barco clandestino, que os levaria até a ilha.
“A gente pegou esse barco, todo mundo passando mal e vomitando e nós ficamos conhecidos como coiotes, que chegaram na ilha em barcos clandestinos”, disse uma das vítimas, a merendeira Thais Ximenes, que pagou R$ 850 pelo pacote de viagem.
Ao chegar em Isla de Margarita, a viagem não foi como o esperado. Segundo as vítimas, elas foram alocadas em um hotel e uma pousada que não estavam pagos. Um dos grupos foi ameaçado de ser expulso das acomodações sem as bagagens caso não pagassem pela hospedagem, que supostamente deveria estar inclusa no pacote de viagem.