A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, reiterou neste sábado (5) sua posição pela manutenção da prisão do médium João de Deus, preso após denúncias de abuso sexual contra mulheres em Abadiânia. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli havia pedido um novo parecer após a defesa apontar fragilidade na saúde do médium e a Justiça goiana apontar que ele não necessita de atendimento especializado.
No documento da Procuradoria-Geral da República (PGR), Dodge diz que foram apresentadas informações detalhadas sobre a situação do processo e os atendimentos médicos aos quais o médium foi submetido nos últimos dias, quando apresentou sangramento na urina e foi levado ao hospital.
Segundo Dodge, as informações apresentadas pela Justiça foram confirmadas no relatório sobre o estado de saúde enviado pela Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP).
“Em nenhum dos atendimentos médicos registados no relatório foi especificado algum problema de saúde do paciente que não possa ser acompanhado e tratado no estabelecimento prisional onde se encontra”, disse a procuradora-geral em matéria publicada no site do órgão.
Na argumentação da defesa ao ministro Dias Toffoli, responsável pelo plantão do STF, a advogado Alberto Toron disse que o cliente estava com a saúde debilitada após passar mal na prisão e informou que dentro do pedido de habeas corpus havia a sugestão de que o médium passe à prisão domiciliar. Para a procuradora-geral, a lei não autoriza a concessão de prisão domiciliar de caráter humanitário, por falta de fundamento.
Na primeira manifestação, dada no último dia 26 de dezembro, a PGR se posicionou contra a soltura do médium. Nessa análise, Dodge afirmou que a concessão da liberdade pelo STF só seria válida se a órdem de prisão fosse ilegal. A procuradora-geral defendeu ainda que fosse mantida a prisão preventiva de João de Deus porque a conduta dele teria apontado risco de fuga e intenção de dificultar a apuração dos fatos.
Problemas de saúde
O médium está preso desde o dia 16 de dezembro. Na quarta-feira (2), João de Deus teve sangramento na urina e foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Flamboyant.
De lá, ele precisou ser transferido para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde passou por exames mais detalhados. Como a unidade de saúde não viu motivos para uma internação, ele teve alta e foi levado de volta ao presídio já na madrugada de quinta-feira (3).
Investigação
O MP-GO denunciou João de Deus no dia 28 de dezembro por quatro crimes que englobam fatos investigados pela Polícia Civil e pelo próprio MP: dois por violação sexual mediante fraude e dois por estupro de vulnerável.
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) informou que a denúncia contra o médium só será analisada após o plantão judiciário, que termina no dia 7 de janeiro. Além disso, os autos foram remetidos à “juíza natural do processo”, Rosângela Rodrigues dos Santos, responsável pela comarca de Abadiânia, no Entorno do DF, onde o caso tramita.
Situação atual
Ministério Público Estadual de Goiás denunciou João de Deus por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável no dia 28 de dezembro. Órgão também recorreu de decisão que determina prisão domiciliar de João de Deus por posse de arma, em 29 de dezembro;
Médium está preso desde o dia 16 de dezembro;
Ele é investigado por estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse legal de arma;
João de Deus prestou depoimento para a Polícia Civil quando foi preso, e ao MP-GO no dia 26 de dezembro;
Esposa do médium foi ouvida pela Polícia Civil no dia 26 de dezembro e disse que não sabia de crimes;
Justiça concedeu prisão domiciliar por posse de armas no dia 27 de dezembro, mas ele segue preso por violaçõa sexual. João de Deus teve habeas corpus negado no TJ-GO e STJ e aguarda decisão do STF;
Após o médium passar mal na prisão no dia 2 de janeiro, o presidente do Supremo pediu novas informações sobre o estado de saúde de João de Deus à Justiça de Goiás. Juíza Marli de Fátima Naves diz que não havia necessidade de transferência para hospital.
Diante dessa informação, o ministro Dias Toffoli pediu novo parecer à PGR, que continuou contrária ao habears corpus.